quinta-feira, outubro 29, 2015

Recuperar é uma opção pessoal

«A perturbação do comportamento alimentar não é um escolha, contudo, a recuperação da doença é um escolha pessoal.» 

Ninguém escolhe ficar doente. Pode revelar-se uma tarefa muito complexa identificar e diagnosticar sintomas e sinais relacionados com a perturbação do comportamento alimentar por parte da família, dos amigos, etc. Na grande maioria dos casos, os sintomas e sinais são ignorados, inclusivamente, o mesmo acontece, por parte do doente. Contrariamente, a esta realidade, nos últimos anos, tem-se verificado avanços significativos, por parte da investigação, sobre o tratamento e a recuperação das pessoas com perturbação do comportamento alimentar; da anorexia nervosa, bulímia nervosa e das crises de voracidade alimentar (binge eating). 
Algumas áreas importantes:
  • Historial de dietas
  • Corpo e peso
  • Historial de abuso e dependência de substâncias psicoactivas, do sistema nervoso central, vulgo drogas.
  • Utilização de diuréticos, laxantes e comprimidos relacionados com dietas.

O diagnostico, na fase inicial da perturbação do comportamento alimentar, pode ser determinante e crucial para o sucesso do tratamento. 
Apesar dos desafios, relacionados com o tratamento e a recuperação da perturbação do comportamento alimentar, refiro-me à ambivalencia e à resistência à mudança, é possível recuperar. Recuperar da doença pode revelar-se uma experiência enriquecedora e recompensadora, em vez de permanecer doente e isolado. Se você identifica sinais ou sintomas, relacionados com a perturbação do comportamento alimentar, procure orientação e esclareça as suas duvidas.

2 comentários:

Quantas vezes mais disse...

TESTEMUNHO

A compulsão alimentar define-se de forma grosseira por «comer aquilo que uma pessoa comeria num dia, num curto periodo de tempo, com sensação de falta de controlo, sentimento de culpa e ausência de medidas compensatórias com a frequencia de minima de 2x por semana durante 6 meses».
Deixo-lhe o meu testemunho. Tive um periodo de compulsoes alimentares regulares, mas as piores, mais graves, mais intensas, eram as esporádicas. Vivo assim há 8 anos, o que corresponde a uma terço da minha vida. Posso descrever um episódio de entre tantos que guardo com dor: um pacote de bolachas, 2 Litros de gelado, 4 iogurtes tipo grego, meio tabuleiro de lasagna, 1tupperware de arroz doce, 1 pacote grande de batatas fritas, croissants com manteiga e queijo, um batido de morango, gelado, banana, açucar, meia quiche, restos de piza, inumeros pedacinhos de queijos diversos e tostas, sopa, chocolates…

Nunca tive excesso de peso. Não se via. Na adolescência, as pessoas sabiam das minhas manias, tive todos os pesos dentro do IMC normal, desde 18.5 a 24. A par desta vida secreta também tinha outra: as corridas em jejum, a restrição, as dietas…

Penso em comida, no que vou comer, no que preciso de gastar, no que comi, de manhã à noite, durante o sono…Sei as kcal de provavelmente todos os alimentos que já me passaram pela boca, obcecada por nutrição e teorias de gasto calórico, de perda de gordura e massa muscular, etc…

Gastei centenas e centenas em comida e laxantes. Pensei em prostituir-me, em doar oócitos, cheguei a roubar a familiares, a procurar no lixo... Tive alguns trabalhos, mas o dinheiro também foi pelo cano.
Assim que tirei a carta, abriu-se a caixa de pandora: o acesso aos hipermercados da cidade era ainda mais fácil, o porta bagagens armazenava desde comida por abrir a restos e papeis…
No meu quarto impregnou-se um cheiro a comida podre (que escondi para não comer, que sobrou e escondi…), um cheiro tão mau que por mais que o limpe não sai.

Sou seguida há 4 anos e meio e desde então, os comportamentos extremaram-se.
Não me curei. Não me curei porque nunca quis verdadeiramente curar-me, quis apenas emagrecer acima de tudo ou comer acima de tudo.
Aliás, não acredito em cura para algo que não admito que seja doença. É uma proto-doença, que parece uma dependencia e parece relacionada com distúrbios alimentares, mas que acredito estar na fronteira de ambos.

Aos olhos dos outros sou normal. Em certas alturas, o meu IMC não chega a 20. Não tenho compulsoes frequentes e as que tenho compenso-as com semanas de controlo alimentar e exercício excessivo (mas não ao ponto de ser obsessivo, todos os dias pelo menos uma hora e não mais do que 3 com uma folga). As pessoas elogiam-me a disciplina pela actividade física que pratico, os familiares mais próximos sabem que tenho um problema, mas não podem intrometer-se muito…porque sou maior, porque tenho um ar normal e porque têm medo. Noutras,rechonchuda, apareço mais nos convívios e como a mesma comida que os meus pais, o que os faz descansar até encontrarem vestígios de papeis e comida desaparecida...

Fui diagnosticada com uma dca, das quais faz parte a compulsão.
A fronteira entre comer demais e ter uma compulsão pode ser ténue, mas existe…
Não acredito que «muita gente», como disse, sofra disto..acredito que haja gente a descontrolar-se e a ter habitos de vida sedentários e escolhas alimentares menos boas, mas esta vivência é diferente…

JOÃO ALEXANDRE RODRIGUES conselheiro certificado abuso de drogas e alcool disse...

Boa noite,
quero felicita-la pelo testemunho sobre a compulsão alimentar e pela sua motivação em procurar ajuda. Procurar ajuda é um passo gigantesco, representa um reconhecimento do problema, honesto e corajoso.
Os meus cumprimentos