sábado, maio 03, 2014

Dia-a-dia na recuperação das dependências


Apresento alguns excertos das pessoas, que diariamente procuram a motivação necessária, a fim de recuperarem a dignidade, a estima e a esperança num mundo em constante mudança. Todos nós, estamos expostos e vulneráveis às mais diversas condições adversas e ao invés de ser a adversidade a definir o rumo das nossas vidas, pelo contrário, somos nós seres fantásticos e resilientes que decidimos romper com aquilo que nos prende à dor e ao sofrimento.

No aconselhamento, as pessoas são o mais importante: os seus falhanços são os meus falhanços e os seus sucessos também são os meus sucessos. Ambos partilhamos esta aventura, porque o aconselhamento só é eficiente se o/a terapeuta e o cliente estiverem em sintonia,  na relação terapêutica de confiança, com o mesmo propósito - recuperação.

Importante: Todos os dados foram alterados de forma a proteger a identidade das pessoas e qualquer semelhança é pura coincidência. 

- Durante a consulta com a Natália, 39 anos (nome fictício – dependência emocional), abordamos a questão da intimidade nos relacionamentos românticos de compromisso: a química do amor (êxtase e o desassossego, vulgo paixão) e o amor duradouro (intimidade e o compromisso). Ela afirmava, com legitimidade, que a fim de manter o relacionamento duradouro é necessário haver entre os parceiros tempo para amar, sem este tempo a relação pode deteriorar-se.
Nota: Sabia que a novidade e o inesperado, por exemplo, quebrar a rotina e fazer coisas fora do comum, mantêm o amor duradouro. Não me estou a referir à paixão

- Durante a consulta com o Daniel, 25 anos (nome fictício – problemas com o Jogo), abordamos alguns factores que contribuem para o jogo compulsivo; 1. Jogar (curiosidade, correr riscos e o perigo inerente das apostas). 2. Gestão de sentimentos desconfortáveis, quebrar o tédio, a ansiedade e o aborrecimento 3. Recompensa (prazer intenso) e oscilações bruscas do humor.
Nota: Sabia que ganhar dinheiro não é o mais importante? O mais importante é jogar e apostar.

- Durante a consulta com a Anita, 38 anos (nome fictício – problemas com o álcool) e os seus pais abordamos os problemas associados ao álcool e o estigma social. A vergonha de expor o problema e pedir ajuda é tão doloroso que optaram por negar as evidências e as consequências negativas. Durante 10 anos não se falou sobre o assunto, inclusive, com outros membros da família. Afirmaram "Sentíamos que ninguém nos compreendia, pelo contrário, conscientemente, optamos pelo silêncio e pelo isolamento."
Nota: Sabia que o álcool é uma droga e que o alcoolismo é um problema de saúde publica?


- Durante a consulta com a Paula, 40 anos (nome fictício – filha de pai alcoólico). O meu pai foi alcoólico e a minha mão é uma pessoa completamente desequilibrada. Todos os dias, o meu pai agredia a minha mãe. Sempre que eu arranjava um namorado, pensava logo em casar para sair definitivamente daquela casa. Mais tarde casei e tenho dois filhos, depois de tolerar tantos abusos, chantagens psicológicas, agressões, muita falta de respeito em casa dos meus pais, o meu marido também tem problemas com bebida. Ele tem comportamentos violentos, mesmo sóbrio. É megalómano e tem a mania das grandezas. Foi muito rico e perdeu tudo há mais ou menos 5 anos. Actualmente, estamos separados, mas o meu problema é querer ajuda-lo, como fiz ao meu pai e à minha mãe. Mas tenho medo de que as coisas possam piorar. Peço ajuda, por favor.”
Nota: Sabia que os filhos de pais alcoólicos são indivíduos vulneráveis nos relacionamentos de intimidade? Dificilmente conseguem estipular limites saudáveis; desenvolvem níveis anormais na tolerância e gestão da dor.

- Durante a consulta com o António, 36 anos (nome fictício – problemas com o Jogo) abordamos alguns dos mecanismos psicológicos que reforçam o comportamento problema. Durante 4 anos e após perder 420.000€ em jogo (online), vários créditos e dividas, continuava a jogar, principalmente para recuperar as perdas. Na realidade, este mecanismo é um reforço do comportamento adictivo (lógica disfuncional), visto o António continuar a gastar muito mais do que aquilo que ganhava, continuou a apostar e a perder cada vez mais dinheiro. Este mecanismo visa justificar a desejo/vontade intensa, irresistível, repetitiva e incontrolável para continuar a jogar. Facilmente arranjam-se múltiplas e engenhosas justificações para continuar a jogar, apesar das consequências negativas. Hoje está em recuperação.
Nota: Apesar da complexidade da doença, sabia que é possível recuperar da adicção?

- Durante a consulta com a Carla, 34 anos (nome fictício – dependência emocional) abordamos a questão da intimidade e falta dela nos relacionamentos românticos. Para algumas pessoas, consciente ou inconsciente, intimidade é sinonimo de medo da rejeição, da separação (vergonha tóxica) e do compromisso. A intimidade numa relação é um contrato, celebrado por duas pessoas, onde ambas as partes se comprometem a preservar, a partilhar e a colher os seus benefícios, salvaguardando a relação e a individualidade de cada um (amor próprio). Um relacionamento só será gratificante e intimo na medida em que existe confiança entre ambas as partes. Podemos conhecer pessoas há muito tempo, mas o tipo de comunicação ser superficial e efémero. A paixão permite às pessoas conhecerem-se intimamente; a paixão tem um tempo de duração mas a intimidade e o amor não têm limites.
Nota: Sabia que algumas pessoas nos relacionamentos de intimidade românticas são vulneráveis ao stress e ao conflito? Exemplo, evitam o conflito ou revelam-se excessivamente defensivas – raiva e ressentimento.

- Durante a consulta com a Helena, 32 anos (nome fictício – dependência emocional) afirmava "Tenho medo do auto conhecimento. De saber coisas sobre mim, que depois não irei conseguir aceitar. Sempre evitei olhar para mim própria... Mas sou muito boa a tratar dos problemas dos outros. Estou farta disto... Quero tratar de mim própria." Parabéns Helena, pela honestidade. Os indivíduos dependentes emocionais desenvolvem crenças rígidas e são excessivamente exigentes consigo próprios: têm medo de deixarem ser quem são, reprimem o auto conhecimento por sentimentos por medo e culpa.
Nota: Algumas pessoas receiam ser honestas com os seus sentimentos – impotência e perda do controlo.

- Durante a consulta com a Renata, 33 anos (nome fictício – distúrbio alimentar) abordamos os sentimentos e comportamentos. Podemos confundir os sentimentos com aquilo que somos realmente. Aquilo que orienta os nossos sentimentos são as nossas crenças, nesse sentido, somos aquilo que acreditamos ser. Por ex. Se as nossas crenças reforçam a baixa auto estima, se alguém afirmar que somos competentes, revela-se difícil acreditar no elogio, porque nos sentimos expostos à  auto crítica disfuncional. Não podemos acreditar em todos os pensamentos e sentimentos (crenças disfuncionais).
Nota: Sabia que, ao contrário daquilo que se pensa, que os indivíduos do sexo masculino também são afectados pelo distúrbio alimentar.

- Durante a consulta com o Mário, 44 anos (nome fictício – problemas com o Jogo) abordamos a compulsividade relacionada com o Jogo patológico (apostas na internet). A compulsividade adictiva visa somente o prazer intenso, associado à excitação, jogar, ganhar, correr riscos (perigo) poder, estatuto, apesar das evidências negativas (perda controlo). Uma das justificações mais frequentes que o Mário utilizava para a compulsão: "Voltava a jogar porque queria recuperar o dinheiro que perdi no dia anterior..." Perguntei: "Quando você ganhava, uma aposta, guardava o dinheiro para si e deixava de jogar ou continuava a jogar, o que tinha ganho, até perder tudo?" Resposta: "Se ganhava, aumentava as apostas, mas no final perdia tudo. Ficava deprimido e ansioso."
Nota: Sabia que um dos sinais mais evidentes na adicção é a perda de controlo do comportamento problema, mesmo apesar das consequência e do impacto negativo.

- Durante a consulta com a Luísa, 42 anos (nome fictício – problemas com o alcool e o Jogo) abordamos os mecanismos psicológicos da negação. A Luísa questionava-se, surpreendida e embaraçada, como é que foi possível andar durante 10 anos, a negar os sintomas, as evidências e as consequências do seu comportamento adictivo. A pessoa adicta não está a mentir, porque em negação, acredita naquilo que afirma, é a sua realidade. As coisas têm a importância que nós decidimos que elas tenham; quer seja na ilusão (auto engano) ou na realidade (honestidade).
Nota: Sabia que a negação é um mecanismo psicológico que permite ao indivíduo justificar o problema. Isto é, conscientemente, ele/ela não está a mentir, está distorcer a realidade.

- Durante a consulta pedi à Francisca, 34 anos (nome fictício - distúrbio alimentar) para responder a uma questão: "Diga-me quais as pessoas que fazem questão de a valorizar? Que, no dia-a-dia, valorizam, as suas competências e os seus talentos?" Resposta: "A minha filha (5 anos)... (reflectiu mais um pouco) e acrescentou, hesitante, (…mais 2 dois amigos. Mas, imediatamente retorqui, defensiva, “ João, hoje em dia, isso não existe, no relacionamento entre as pessoas. Andamos todos a correr e somos todos uns egoístas."
Nota: Existem três factores que estão associados ao distúrbio alimentar: 1. A comida. 2. O peso e 3. A imagem corporal.

Comentário: A adicção activa (doença crónica) afecta seriamente a qualidade do relacionamento com as outras pessoas, incluindo as crianças na família.
Fico fascinado com a motivação, a persistência, a perícia e a criatividade do ser humano . Através da tentativa e do erro, vamos melhorando a experiência e o conhecimento através do processo, mesmo que o resultado dos nossos comportamentos sejam negativos – perda do controlo.
Novidade. Vou iniciar o aconselhamento através do Skype, caso você seja residente fora da zona do Porto, pode optar pelas consultas online. Poupa tempo, dinheiro e tem acesso ao aconselhamento na área específica dos comportamentos adictivos. Cada caso será sujeito a uma avaliação prévia.

  

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