segunda-feira, novembro 16, 2009

Varias vozes; a mesma experiência



Decidi juntar apenas alguns relatos de pessoas, que me chegam todos os dias, cujas vidas foram sujeitas ao trauma da adicção activa. No dia que consigamos falar a uma só voz, na busca de soluções, encontraremos uma luz ao fundo túnel. Todas os dados dos intervenientes foram modificados de forma a manter a confidencialidade. Todos os nomes são fictícios.



"Tenho 34 anos, sou casada e tenho um filho de 5 anos. Na altura da minha gravidez passei um período muito conturbado pois sofri represálias no emprego. Durante este tempo recriminei-me pela gravidez. Quando finalmente tudo estava a acalmar, fui abaixo pois o meu filho passou também por uma fase muito má e estive cerca de 9 meses com insónias, acabei por ser medicada com ansiolitico e antidepressivo. Passados uns meses deixei a medicação e recomecei a fazer ginástica que havia parado durante a gravidez e a preocupar-me mais comigo - fisicamente. O meu marido sempre foi gordinho e antes de eu engravidar, ele estava com quase 100 kg, consultou uma nutricionista e perdeu muito peso, mais tarde voltou a ganhar quando o bebé nasceu. Também ganhei alguns kilos e tornei-me muito preocupada em emagrecer mas também comecei a sentir cada vez mais incomodada com o excesso de peso do meu marido. Controlo diariamente o peso, faço exercício duas a três vezes por semana e sinto-me bem assim. O problema é que estendi este controlo ao meu marido e tento controlar o que ele come só pelo facto, de repugnar vê-lo tão gordo. Mudei a alimentação em casa e incentivei-o a fazer exercício. Ele começou a andar de bicicleta estando agora muito mais magro. Continuo a incentivá-lo e sinto-me agora mais atraída por ele estando a nossa vida íntima muito melhor, mas continuo obcecada com o que ele come e se comete excessos sinto-me em pânico que ele volte a engordar e fico chateada com ele. Os meus cumprimentos, Emília"





"Tenho 25 anos e uma dúvida que ainda ninguém me conseguiu esclarecer, nem sei se existe algum esclarecimento lógico e nem sei se estarei a recorrer a pessoa certa. É possível ser viciado numa relação, que não é saudável? Namoro á 2 anos (com o homem com que me vejo casada), e tenho um caso com um homem 8 anos mais velho, acerca de 5 anos. Às vezes tenho a sensação que este meu caso é doentio e se calhar de ambas as partes. È um "relacionamento" muito pouco saudável em quase tudo, existe muita agressão verbal de parte a parte, tudo o que possa imaginar já foi dito um ao outro, ao ponto de uma vez ele me ameaçar que me destruía a minha vida, de milhentas vezes termos dito um ao outro “Desaparece da minha vida…, Nunca mais te quero voltar a ver…, etc.” E no máximo, passado 2 semanas, estamos envolvidos novamente, sem nunca se pedir desculpas pelo que foi dito anteriormente.Muitas das vezes quando estou longe dele, sinto quase 100% de certeza que foi a ultima vez, porque cada vez é pior, porque saio frustrada, que isto só me faz mal, porque estou farta de tudo (dele, da situação), mas ate agora, este fim ainda não aconteceu! Por favor ajude-me, estou farta, mas cada vez que tento afastar-me dele não resulta (ou porque sinto saudades dele ou de falar com ele...) já não sei o que fazer.Pode existir algum tipo de vício ou dependência neste tipo de relação? Muito Obrigada. Vera"


"Sou casada à 6 meses com um indivíduo com 45 anos aparentemente normal, que faz tudo para me agradar, detesta discussões, super educado, adora estar em casa e conviver com os amigos. Mas neste “el dourado” comecei a aperceber-me de umas mensagens e telefonemas estranhos (pessoas que ele tem dívidas), e tornei-me detective particular e só então consegui começar a perceber o que se estava a passar. O meu sogro que já faleceu também sofria de dependência do jogo, era uma pessoa com algumas posses e foi pagando as suas dívidas e as do filho. Viviam os dois, uma espécie de "segredo". A minha sogra é muito obsessiva com limpezas e arrumação, ela e os familiares mais directos têm alguns problemas com álcool, o meu marido também bebe (especialmente se tiver algum problema)."



"Um homem com 45 anos sofrendo de dependência ao jogo tem recuperação sem ajuda? Jogos de apostas - euro milhões, totoloto e lotaria, envolvendo-se em dívidas que quase o fizeram perder o emprego. Esse comportamento foi herdado do pai sendo que a mãe tem comportamentos obsessivos e adição ao álcool).Agradeço desde já a sua atenção, pois não sei como lidar com esta situação nem como ajudar. Melhores cumprimentos, Isabel"



"Boa tarde, o meu pai tem 58 anos começou há 2 anos a mostrar interesse pela internet.
Comprou um computador e é vê-lo agarrado de manhã à noite. Paga semestralmente 70€ para falar com mulheres num site de amizades “coloridas" e já tem inúmeras adicionadas no Messenger. A vida familiar foi-se degradando. Só sai da frente do computador para ir a casa de banho e comer. Não dá assistência nenhuma à minha mãe, nem mesmo quando está doente como já foi o caso. Esta situação está a levar ao fim do casamento, e quando confrontado pela minha mãe com o desrespeito da situação, defende-se dizendo que não tem nada com elas é só para falar. Gostaria que me desse alguma orientação neste sentido.Obrigada Carla"



"Ao pesquisar na internet vi o seu blogue e o texto acerca das dependências emocionais.
Penso estar numa relação dependente com uma pessoa muito manipuladora.
Apesar de ter consciência que ele me faz mal, não consigo deixar de gostar dessa pessoa. Afasta-lo torna-se muito complicado, uma vez que me pede sempre uma ultima oportunidade com choros e mil e uma promessas, além dos mil e um argumentos que utiliza para me fazer sentir culpada e ter compaixão dele. Esta relação já me desgasta tanto ao ponto de eu ficar doente fisicamente! Penso que fazer psicoterapia talvez me ajude. Não sei se me poderia ajudar. O
s meus cumprimentos Olga" 


"Olá João Rodrigues, li um texto no blogue sobre a gestão de raiva. Gostaria de saber mais informações sobre o assunto, já que sinto que tenho andado a sentir cada vez mais explosões de raiva - em grande parte devido ao grande stress que estou sujeita. O que gostaria de saber é se existe algum tipo de apoio ou terapia de anger management que me ajude a levar a minha vida com mais calma. Porque prevejo um ataque cardíaco para breve ou que seja presa um dia destes (Estou a falar meio a sério, meio a brincar). Obrigada pela atenção, Celeste"



"Tenho 25 anos e estou numa relação com o meu namorado á 2 anos, mas mantenho uma relação com outra pessoa há 7 anos. Acho que esta relação de dependência, é um vicio, que me bloqueia e não me deixa seguir o meu caminho, por diversas vezes já dissemos um ao outro que chegava, que tínhamos de desaparecer da vida um do outro, só que passadas 2/3 semanas tudo volta ao normal. Só que esta relação tem ainda mais um problema, existe muita agressão psicológica, principalmente da parte dele para comigo, até ao ponto que eu já não me reconheço, sinto que me perdi, que não sou assim e não consigo voltar a encontrar o meu Eu, tenho a auto estima a roçar o chão. Sei que preciso de ajuda, mas infelizmente esse tipo de ajuda é muito cara, e não sei mais o que fazer, sinto me sem direcção, não consigo ver a luz ao fundo do túnel. Sei que muito ainda ficou para contar, uma curta vida de 25 anos, mas cheia de vivências nem sempre boas, mas espero que seja o suficiente para me puder ajudar. Rosa"


"Boa Tarde, Li alguns testemunhos de situações difíceis e gostaria de lhe colocar a minha. Casei com alguém que se tornou um adicto. Tenho 2 filhos e neste momento estou separada. Isto é o meu núcleo duro mas a par desta situação tenho também o drama de todas as minhas irmãs também se tornaram adictas. Tirei praticamente um “doutoramento” em consultas familiares de apoio tanto para as minhas irmãs, como para o meu ex marido, isto significa que praticamente durante 25 anos os comportamentos foram de consumo a alto nível. Neste momento, nenhuns deles consumem drogas, inclusive pertencem aos Alcoólicos Anónimos (AA). Ao fim de todos estes anos imaginei que quando acabassem as drogas poderia ter paz, vejo-me metida numa rede de cumplicidades, entre eles e para além de me rejeitarem, manipulam os meus filhos de forma a conseguirem isolar-me. Psicologicamente, sinto-me insegura, para além do cansaço, sinto frustração, tristeza, revolta, ódio e desprezo. O bem que fiz no empenho da sanidade de todos eles, mas como não tenho possibilidades ou orientações bem dirigidas para poder pedir ajuda gostaria que me desse alguma orientação. Obrigada Catarina"



"Bom dia João Alexandre, Estou com um grave problema, tive uma infância difícil, perdi a minha mãe com 3 anos de idade e não vivi com o meu pai. E só comecei a viver aos 15 anos e neste momento tenho 19 anos. Só que agora estou com alguns problemas na minha vida pessoal. Enervo-me facilmente e não tenho calma, por vezes, faço coisas que não me reconheço. Fico cega de nervos, ate parto coisas, é indescritível. Como por exemplo, parti o meu portátil com os nervos, e tudo o que tenho a mão. E na minha relação, enervo-me facilmente com o meu namorado ate já cheguei a agredi-lo, mas não quero fazer, é como se não respondesse por mim. E quando estou mais calma, nem acredito no que fiz, os nervos consumem me de tal maneira que não consigo explicar. E torna a minha relação difícil, fico desconfiada, ciumenta e possessiva por tudo e por nada. Até penso que estou louca, e por vezes ate penso em morrer e já pensei em tentar me matar. Gostaria que me dissesse o que devo fazer. Obrigada, Gabriela"


"Boa tarde. Identifiquei-me totalmente com o artigo: no meu caso, o meu companheiro teve um caso extra-relação, e desde aí temos tentado recompor a nossa relação, mas não é fácil. Dou por mim a pensar porque ele não quer mais sexo “Será que já não gosta de mim?”, quando ele está fora, em trabalho, “Estará com alguém?” Sinto-me totalmente desgastada e sem força. Sou totalmente dependente (emocionalmente falando) e estou muito em baixo, deprimida. Como posso reagir e combater esta situação? Como voltar a ter confiança e relaxar na relação? Consumo-me ao ter este tipo de pensamentos, combato-os como posso, mas começo a perder a batalha.Poderá ajudar-me? Filipa"


"Boa noite, O meu pai tem 60 anos e é adicto ao jogo, o ano passado depois de votar a perder muito dinheiro no casino, procurou-me para o ajudar a pagar a divida. Ajudei-o, mas com a condição de procurar ajuda, tentei que fosse aos jogadores anónimos mas recusou, consegui então um acompanhamento no psicólogo, o qual ele vai. O problema agora é que o psicólogo está a pressiona-lo para ele ir aos Jogadores Anónimos e ele não quer ir, penso que por vergonha, até deixou de ir as consultas. Gostaria de saber se há consultas as quais ele possa ir em local mais "discreto", num consultório e com uma consulta individual. Marta"



"Bom dia, não estou nada bem. Estou há um ano separada do meu marido e a minha filha está comigo. Não tenho dinheiro para nada, mas encontro-me a trabalhar. Vou para casa, fico a “vegetar” e a consumir álcool, não tenho dinheiro para ir para mais nenhuma instituição. Quero lhe pedir se souber de alguma que não cobre nenhum dinheiro, mas que se pague pouco, agradeço. Encontrei o seu e-mail na internet. Peço-lhe ajuda. Obrigada! Com os melhores cumprimentos, Sofia"


"Estou casada a 16 anos, o meu marido foi jogador compulsivo durante 10 anos. Pelo jogo chegou a contrair empréstimos sem eu saber, dizia que estava separado para eu não ter que assinar a autorização. Chegou a levantar as nossas poupanças todas, só numa vez levantou 2.000 contos e gastou todo em 2 dias no casino. Chegava a dormir 2 ou 3 dias fora, principalmente quando ganhava e queria estar logo na abertura do casino e claro não ia trabalhar, com isso perdeu o emprego. Andei muitos anos (+/-7anos) em silencio, nunca ninguém imaginava a minha vida, mas cheguei ao ponto de não aguentar mais, não por mim mas pelos meus filhos. Chegamos a passar fome, porque não tinha dinheiro para comer e no silêncio ninguém me ajudava porque não sabiam, mas nunca desisti sempre acreditei que íamos vencer. Chegamos a ir a um psicólogo, a um psiquiatra, no qual fez medicação, chegou a ir a terapia de grupo mas nada adiantou, chegou a ir se negar ao casino mas entrava na mesma, mas nunca desisti porque sabia se desistisse aí sim era o fim dele.
No Natal, ele prometeu que me iria dar essa prenda (deixar de jogar). Dou Graças a Deus, que ouviu as minhas orações e me respondeu desde esse dia nunca mais jogou já passaram 3 meses. Um erro que acho que cometi foi o silêncio, pois no silêncio ele (jogador) não pensam nas consequências nem tem vergonha. Fale, não com todos, mas com quem a ama e a compreende. Peça ajuda a técnicos especializados. Tenho consciência que não há cura para esta doença pode haver uma recaída mas vou lutar até vencer, e que Deus nos ajude a que não recaia. Penso que é como disse não há cura para o vício? Depois de quanto tempo de “abstinência” se pode considerar curado? Muito obrigado, Marisa"


"Tenho 23 anos e sofro de distúrbio alimentar desde os 13 anos. Como também já experimentei de tudo, psiquiatras, psicólogos, acupunctura, etc. Entre todos eles, o programa dos 12 passos foi a única coisa que resultou comigo, pois acredito que possa ser o que tem mais sucesso. Já conheço o seu blogue há algum tempo e tem ajudado muito. Pretendia que com a sua ajuda, divulgar este programa para quem sofre desta doença. Gostaria de abrir uma reunião de adictos à comida no Algarve mas preciso de ajuda para encontrar pessoas que desejem o mesmo, é por aqui que lhe solicito essa ajuda. Qualquer coisa disponha, Atenciosamente Elvira"


"Olá João, antes de mais deixa-me felicitar-te pelo excelente trabalho que estás a desenvolver no blogue, parece-me uma ferramenta francamente importante para todos nós adictos e não adictos. Estou em recuperação há 6 anos. Tenho encontrado de facto razões para agradecer todos os dias por ter encontrado um caminho espiritual, não religioso, que me ajude no meu auto-conhecimento e na busca pela felicidade."



O que me leva a contactar-te é o problema de um amigo, penso que tem dificuldades no relacionamento, seja com ele próprio ou com as vicissitudes (que no caso dele foram muitas) que teve e tem de encarar perante a vida. Desde Janeiro que mantemos uma relação, no entanto ela deixou de ser tão saudável quanto desejaria e penso que “dar um tempo” até ele se encontrar e decidir que rumo quer seguir da vida é a melhor solução, para ele e para mim. Resumidamente, ele tem 38 anos e um emprego (que lhe dá muita flexibilidade de horários), é uma pessoa altamente sensível a todas as questões humanas e solidárias, tem uma perspectiva muito coerente sobre a “responsabilidade” de sermos correctos com os outros. Enfim, é uma pessoa boa com sentimentos muito bonitos, mas todas as noites vai para o café e bebe. Ao fim-de-semana, que aumenta os consumos em muito. O facto de o álcool ser socialmente aceite, não ajuda a que ele perceba que o álcool é de facto um problema. Continua com o excelente trabalho, Maria"



Estas historias reais são um contributo na luta contra o estigma, a negação e a vergonha tóxica associada à Adicção activa. Recuperar É Que Está A Dar. o seu silêncio não é protector pelo contrario, contribui para a progressão da doença. Peça ajuda.



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